sábado, 30 de abril de 2016

O Grande Príncipe I

A pele, fria estática sob o vento do sul
Marcas de um tempo que o arrepio elevava o pelos
O amor fez as malas pediu passagem
não quis voltar, fugiu de casa
Mudou-se pro campo criou suas vacas
Cultivou a terra colheu suas magoas
Correu o mundo jovem príncipe, fingiu não se importar
Tremeu, sorriu, gemeu e cantou
Fez rimas pra se lembrar que amou
Tentou nadar, se afogou, ressuscitou.
O tempo em nada colaborou, sismou em parar e negou-se contar
Pedras chutou, pedras quebrou, as pedras em nada mudaram
Ele mudou, ele se cortou, ele se quebrou, ele se concertou...
A cada passo na areia seus pés afundavam, o peso era grande
o corpo era leve, a gravidade o puxava.
Certo dia encontrei o príncipe na sala, no canto o reflexo 
O quadro sem margem, a viajem acabou.
Responda-me o que o mundo ensina a quem resolve seguir a vida?
_ "Não aprendi nada que já não sabia, 
     senti a dor,
     e a deixei passar,
     cada dia lembrava que ainda sentiria
     mais dor ao acordar,
     e de novo passaria,
     Resolvi esperar."
Não corra na praia se tem medo de mar, não coma farofa se irá engasgar.... não beije minha boca se irá me amar....

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Canção francesa

O que muda quando o corpo entorna
a pele solta e as palavras esfriam
Julgar os centimetros entre minha boca e a sua
como fardo que nunca se encosta
Um tormento viver em camas limpas
e sonhar no meu canto
Queira cantar comigo e não para outros o que alegra
e sai da corda bamba pra não cair na estrada velha
Tínhamos  um todo guardado e um tudo sem uso
e nada foi resolvido a não ser por um muro
Passo a passo de um sossego sem rumo
Palheta borrada e um pouco de húmus
Fiquei na balada da batida de fundo
Olhos que não reconheço
Toque que não reconheço
Beijo que não reconheço
Vejo que não te conheço.
Anda do lado de fora da porta sem nome
meu pé já dorme sem força nos dedos
Sentei na calçada pra ver passar a carroça
Pensei que o amor viria nas costas
do jeito que era quando eu ria nas cocegas
Não veio, nem tinha a intenção de ficar
passou no chicote e levou o ar
sobrou meus destroços como prato quebrado.
Subi no ônibus pra não mais voltar
olhei pra trás e perdi meu relógio
Notei que mesmo quebrado ainda estava a girar
tempo não se perde mais continua a passar.
De punhado em punhado terei no passado lembranças para amar.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Mais uma vez

Cadê o arco iris que tava aqui
e sol que esquentava as pernas
sonho vago de lembranças cruas
memoria rasgada do que não existia
Depois de tudo parecia historia
e a festa mesmo não sobrava horas
Mais que coquetel abusivo de loucuras prontas
da facilidade tônica  e do clamor inglório
Fazia parte de um todo torto e nem por fora
saberia as provas.
Magnetismo invisível sorteia
o mais jogado a questão premeria
o tonto e cálido foste ao chão
por mais regalo gostaste em vão
Manda ni mim, aquela teia
faz de tudo uma cadeia
morre nos braços da solidão
e joga as honras num caixão
Tanto fez que tanto faz
sobrou palpite
falto paz
Metade nem tinha sido ainda
quando o todo já tinha ido
Não fuja da pedra nem passe por cima
tenha coragem e e faça a rima
Um dia acaba, uma fase termina
As cores de agora não passam de cinzas
Se chove de novo e o sol se anuncia,
verá no horizonte as cores da vida.

sábado, 9 de abril de 2016

Prêt-à-porter

Se falássemos de tudo que está por vir
e delas não soubéssemos cada sentido oculto
teríamos então por décadas sonhos incompletos
e camadas de sombras sobre o passado escondido
dentre tantas chances desmedidas, serene nostalgia
Serão nove vezes postos a prova
querendo a verdade afim de algo próprio
tamanho fim de um sentido único
Peço que volte na calma atrofiada
pede a mim como quem solicita o obvio
e tenha em mãos o argumento decisivo
Corte afiado do metal que funde o corpo
e deflagra o tão quisto agora
e finda o temor de horas avulsas
Na parte de cima veremos o quão torpe seria o aço
e foco abaixo o frágil magnetismo que impera
Não mostre ao seu encanto o poder de seus precedentes
e confunda o meio a fim de manobrar o resultado
Por mais sorte o pano trapo ainda se torna roupa um dia
na ponta o corte, e no arremate o esboço.
Tecido fino que laça o vago
uso inútil ao que outrora aqueceu a pele
Solta o que prende as pontas e se desfaça 
Quem sabe em breve volte a ocupar uma vitrine

domingo, 3 de abril de 2016

Suicídio

Queria que fosse apenas amor
mas como ser se é mais
ou se não é
como saber o que explicar
como viver e sonhar
e não temer o que virá
Quando o seu corpo parar
e meu sangue escorrer
Pode o amor ferir tanto
que eu prefira morrer?

Equação

Como esses pensamentos podem ser algo
se nada mais pode ser dito?
A quem veja como obvio
apenas olho para o nada
sempre existiu ventos do sul
e algo mais claro no alto
pois que sejam mais vezes, por mais dias
Seremos cascalhos do terreno ao lado
lixo inerte que pra servir precisaria virar pó
Comando meus sonhos com peso das mudanças
a liberdade é tal qual meu calcanhar 
sempre em dores incessantes
Temo de existir ao som das vozes
que murmuram uma calma que não permite
e o caos do que está por vir ainda se norteia
vamos ao longo do tempo sendo armados
com foices e tramas
Marionete de quem?
sambando ao clamor do coices 
Queria que fosse contigo aquela historia
O peixe que se recusa a viver na aguá pode morrer no espaço
e nessa vida não cabe mas quem sabe em outra?
nós pedimos muito e e não sabemos onde estamos
cade meu centro, cade meu fim
começo a achar que inventei.
Minha carne se decompõe de dentro e por fora estou sorrindo
sua alma se descolore ou apenas não me pertence 
calculo mil vezes a formula de existir
quanto mais conto menos tenho
quantos anos mais para ser zero
ir alem do que pode ser dito, visto ou sentido
sem rima, sem lar, sem mar. Me afogo no ar.