domingo, 21 de abril de 2019

Favor

Se pudesse por um dia
Fazer o relógio voltar
Fazer o tempo acalmar
Para que o sofrimento acabasse
Perder a memória
Sumir com a dor
Acabar com a vida
Por mais que impossível
Não seria difícil
Ver as luzes se apagar
ver o mundo cair
Surgir em outro lugar
Partir daqui
Voar para longe
Sem medo e sem fim
Queria ser isso
Queria ser assim
Já não cabe mas desculpa
Já não passa mas tristeza
Hoje sou oco e sem mim
Um caos de agonia
Um ser sem ousadia
Um nada simples assim
Nada mais tem alegria
Faça um favor a mim
E acabe com isso enfim.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Cansado

Cansei de ser pedra no caminho
De da flor eu ser o espinho
De ser o que não sou
Ou de ser o que alimenta
O que esfria e não esquenta
O mal que sempre causou
A tristeza da sua tarde
A lágrima da sua face
O amor que não brotou
Cansei da coisa morna
Dá frieza do abraço
Do vazio infinito
Que a vida me causou
Cansei do meu reflexo
Da palavra repetida
Do amor que não deu certo
Cansei da vida e suas idas
Suas vindas e partidas
Cansei da minha mente
Dos pensamentos inconsequentes
Do valor que já não dou
Cansei de acordar todos os dias
De sonhar sem alegria
De viver sem ver a cor
Cansei de existir nessa agonia
De esperar um novo dia
De tentar mais uma vez
Cansei da pele que habito
da voz que pronuncio
Do calar que predomina
Cansei dessa vida
E da outra e de todas
Espero firme pelo dia
Que não verei mais a luz
E talvez assim eu viva
Com vontade e alegria
Por que hoje já havia
Morrido tudo em meu interior.

Sem luz

Onde estávamos quando se foi
Acabou a luz e a paz também
A flor murchou, secou, caiu
Meu nome errou e se mudou
Galhos longos e quebrados
Faca afiada que entrou
Minha vida se perdeu
O amargo derretido
Se enterrou ainda vivo
A cada cai pouco a pouco
Mas se a escada não chegou
O cordão já se cortou
Foi um dia, já não é nada
Hoje dorme na sacada
Só não pula por preguiça
Mas se vai sem que perceba
Ainda foge da certeza
E se apaga em brasas na clareira
Um dia vai...
Um dia acaba.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Seco

Eu colho a tempestade que já plantei
Faço de ouro a coroa de um rei
Sempre no vago um vazio sem fim
O dorso da dobra me faz não sorrir
Juntos quem somos, um nada a vagar
Nem era de longe um caso a velar
Só entre paredes que nem ficção
Amante da dor, um furo na mão
Apenas comigo o luar não tem cor
O sol não esquenta, me resta o rancor
Logo me sinto um nada em escala
Ele me cobra um amor que me abala
No valor das palavras eu durmo cedo
Me apago do mundo, me desfecho
Calma entre os dedos mas berra as palavras
Jogado ao vento em meio ao nada
Não vejo outra escolha o fim é assim
Aceito o destino e acabo sozinho
Melhor do que a mágoa
Melhor que ferir
Se sou uma falha
Melhor nem seguir
Tem algo no peito, e leva pra vida
É a forma de ser de quem escolheu
Um galho mais seco
Uma parte morreu